DESENHO MULTIPLICADO

2018 > 2019

Quando Aglaíze Damasceno, Clara Sampaio, Rita Gaspar Vieira, Marcelo Forte e Vanda Madureira apresentam este projecto aqui como “Desenho Multiplicado” fazem-no como os artistas fazem. Dizem uma coisa sabendo que, ao fazê-lo, também dizem o seu avesso, o avesso do seu avesso e assim sucessivamente e em vários sentidos… Coisas que implicam outras sem nunca voltar ao mesmo lugar. Mesmo que aqui procurem a possibilidade de o lugar do desenho ser uma coisa física. Um lugar, mesmo.

 

E o “mesmo” dá-lo-ia a fábrica, uma fábrica onde se faz a materialidade de que os desenhos se fazem, haja suporte sobre o qual os fazer. Porque esta fábrica faz lápis sem papel. Lápis assim suspensos nesta condição. Lápis voadores, não fossem no processo de fabricação aqueles objectos que se põem nas caixas e que, não propriamente por sortilégio poético, na repetição dos gestos, se tornam invisíveis. Mas nunca invisíveis as pessoas que os fazem. Mesmo que o fossem para si, não são invisíveis entre si, nas relações humanas que as levam dali para outros lugares.

Cinco artistas num mesmo lugar, mesmo que não simultaneamente, mas cinco. Como os dedos de uma mão, por acaso certamente e facto nada relevante, não fosse em arte tudo parecer ser relevante, ou ser igual tanto na relevância quanto na ausência dela. Tudo aqui é singular, só uma coisa é excepção, porque tudo o que existe é excepção e simultaneamente uniforme, num todo indivisível e infinitamente fragmentado. Plural de lápis é lápis. E é assim que este desenho aqui certamente se multiplicará. Multiplica-se para ficar em si mesmo.

 

Estes cinco artistas encontram-se, vão para uma fábrica como quem vai para a origem das coisas. Ao querer aproximar-se tanto do desenho, como se quisessem fazer crer que seria a sua origem que procuram, mais dele se afastam. Provavelmente é mesmo isso que querem, adivinhando o que nós queremos. Porque ao desenho não se chega porque é sua natureza ser ponto de partida. Mas ponto de partida num processo que podemos inverter, nem que seja para que tudo isto caiba nesta fábrica.

 

António Olaio
Colégio das Artes da Universidade de Coimbra

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