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Sobre os Maus Hábitos
Novo lugar antropológico
Quando é que um...
  ...desenho não é um desenho?

“A redução de uma cabeça em movimento a uma simples linha pareceu-me, a mim, justificável”
Marcel Duchamp1

O projecto VIARCO Express não é sobre desenho. É possível argumentar que o desenho já não existe no sentido clássico das belas artes. Existirá, apenas, o desenho em relação com outras disciplinas e outros meios. No caso do projecto Viarco Express, existe uma exploração da relação entre o desenho, a mensagem e o lápis, aqui considerado o meio (medium). Pedimos desculpa a Marshall McLuhan. O projecto Viarco Express é sobre o desenho na qualidade de esforço colaborativo e multidisciplinar, assumindo uma nova perspectiva (sic).

Este projecto foi desenvolvido e produzido por Daniel Pires, director da Maus Hábitos, um espaço cultural alternativo do Porto, Portugal. Porém, não se trata do típico projecto de curadoria. Em muitos aspectos, a ausência da voz curatorial normal amplia e promove a participação criativa. A constante neste projecto não é o olho de curador de Daniel Pires, mas o seu olho fotográfico, à medida que tira retratos das “suas” gavetas.

O projecto toca em três áreas importantes: as novas Indústrias Criativas Portuguesas, novas definições de núcleos criativos e novas formas de incubação.

Na verdade, este projecto constitui um estudo de caso exemplar para as indústrias criativas de Portugal. Um estudo de caso sobre a apropriação de capacidades e indústrias tradicionais e a sua transformação conceptual, com a ajuda de novas tecnologias e meios, em algo que implica propriedade intelectual e pode gerar rendimento.

O Viarco Express não é, em si, um projecto de desenho. Trata-se de uma rede social criativa. Na gíria dos novos media, caso existisse, poder-se-ia chamar ao Viarco Express Web Minus One Point Zero (Web -1.0).

Em Portugal existem muitas mais colaborações potenciais possíveis no mapa criativo entre as novas e as velhas indústrias. Estas são uma das características de venda únicas do sector criativo português, e não devem ser negligenciadas. A ADDICT, agência de indústrias criativas, encontra-se na posição de as facilitar. São estes tipos de colaboração que, nos tempos metacompetitivos actuais, permitirão às indústrias criativas portuguesas destacar-se das de outros países. A cartografia e definição de todo o sector criativo, incluindo os artesanatos, ajudará a estimular a economia criativa em toda a Península Ibérica. Aquilo de que falamos aqui é do estabelecimento de pontes entre a inovação e a tradição. Pontes que projectos como o presente Viarco Express são capazes de estabelecer.

O aspecto agregador do projecto Viarco Express merece também atenção. Se a empresa de telecomunicações FON, do guru high tech Martin Varsavsky, pode ser considerada um cluster virtual baseado na partilha do acesso à tecnologia, então o Viarco Express deve também ser considerado uma forma de cluster criativo virtual. Em especial, quando utiliza a web, mas não exclusivamente. No caso do Viarco Express, os participantes, os parceiros da comunicação social, o Museu da Presidência da República e toda a restante equipa proporcionaram um serviço para o projecto que constitui um cluster.

No sector criativo, esta capacidade de agregar é o motor da economia orientada por projectos. Por outras palavras, as definições originais tanto de indústrias criativas como de cluster estão desactualizadas, dado que o mercado mudou e ambas as definições necessitam de reenquadramento.

[“Clusters (ou agregados) são concentrações geográficas de empresas interrelacionadas, fornecedores especializados e instituições associadas de uma determinada área de especialização que se encontram presentes numa nação ou numa região. Os clusters surgem porque aumentam a produtividade com que as empresas podem competir. O desenvolvimento e a actualização de clusters tem sido uma parte importante da agenda de governos, empresas e outras instituições. As iniciativas de desenvolvimento de clusters são importantes estratégias de desenvolvimento de políticas económicas, baseadas em esforços anteriores de estabilização macroeconómica, privatização, abertura de mercados e redução de custos nos negócios”]2

Tal como Justin O Connor refere: “Isto não é uma mera acomodação pragmática de uma moda política passageira, mas uma tentativa de lhe conferir realidade teórica e empírica. Não é, em princípio, uma extensão da “economia do conhecimento” de Daniel Bell, com os seus “trabalhadores simbólicos”, tal como é frequentemente defendido (Garnham, 2005; Pratt, 2009) – uma carga mais aplicável a Richard Florida (2005) e a John Howkins (2001). Nem se trata de simples “economicismo” no sentido de reduzir a produção cultural aos seus produtos económicos. Vai beber à economia evolucionária e às teorias de democratização cultural, para defender que as indústrias criativas exemplificam um tipo específico de mercado – um mercado de rede social – no qual a falsa oposição de valores económicos e culturais é dissolvida em sistemas adaptativos altamente complexos.”3 Por outras palavras, o sector criativo, em Portugal e fora dele, requer um particular cuidado e atenção em comparação com outros sectores da indústria.

O Connor retoma este mesmo assunto num outro ensaio, a partir de um outro ângulo: “Os geógrafos económicos que trabalham neste campo procuraram ainda distinguir os clusters da indústria criativa de outros clusters empresariais, tendo enfatizado as dimensões socioculturais do lugar como factores-chave de “vantagem competitiva”. Ao fazê-lo, utilizaram termos tais como o “meio inovador ou criativo”, “campo criativo”, ou infra-estruturas “criativas”, “críticas” ou “virtuais” (Hall, 2000; Pratt, 2000; 2002; 2004; Scott,2000; 2001; 2004; 2006).”4

Nestes últimos dias da modernidade, pode defender-se que os clusters, criativos ou de outra natureza, podem ser permanentes ou temporários, e que os seus facilitadores, neste caso o projecto Maus Hábitos, são agentes de criatividade no puro sentido do termo, sendo detentores de um importante papel na incubação de ideias. O próximo projecto Maus Hábitos irá investigar as noções de criatividade, empreendedorismo, agregação e incubação.

Se a empresa de telecomunicações FON pode ser considerada um cluster com base na partilha do acessoà tecnologia, então o Viarco Express é também uma forma de cluster criativo virtual. A definição original de cluster está desactualizada.

“’Clusters’ são concentrações geográficas de empresas interrelacionadas, fornecedores especializados
e instituições associadas de uma determinada área de especialização que se encontram presentes numa
nação ou numa região. Os ‘clusters’ surgem porque aumentam a produtividade com que as empresas podem competir. O desenvolvimento e a actualização de ‘clusters’ tem sido uma parte importante da agenda de governos, empresas e outras instituições. As iniciativas de desenvolvimento de ‘clusters’ são importantes estratégias de desenvolvimento de políticas económicas, baseadas em esforços anteriores de estabilização macroeconómica, privatização, abertura de mercados e redução de custos nos negócios”.5

Nos dias que correm, os clusters podem ser permanentes ou temporários, e os seus facilitadores, neste caso o projecto Maus Hábitos, são agentes de criatividade, no sentido mais activo do termo. O projecto Maus Hábitos é uma incubadora de criatividade, e exerce esta função de forma informal mas muito poderosa.

Futuro Viarco Express

Resta-nos colocar algumas questões importantes, em antecipação à inevitável comutação do projecto Viarco Express de analógico para digital. Isto é um desenho? www.knittaplease.com, ou isto www.yellowarrow.net ou isto http://graffitiresearchlab.com/?page_id=76. Se isto não são desenhos, o que são?

Estas novas formas criativas parecem cruzar territórios figurativos e abstractos. O desenho do início do
século adquiriu uma fluidez que não tinha no século passado. Existe uma nova geração de desenhadores
e uma nova geração de pessoas que estudam os seus desenhos. Talvez necessitemos também de uma nova geração de professores? Ao contrário do que acontecia no passado, os que fazem os desenhos e os que os estudam são os mesmos: “Quando primeiro me interessei pela investigação do desenho… ingenuamente, identifiquei duas comunidades. Observei pessoas que faziam desenhos que os faziam por várias razões. Identifiquei também um grupo de pessoas que estudavam as suas produções… Hoje existe uma comunidade de desenhadores mais extensa, mas ainda nos debatemos com esta relação entre o desenho e a investigação”.6 Esta convergência merece, evidentemente, ser investigada. Quando é que um desenho não é um desenho? Que é que isso interessa! A pergunta que devíamos fazer é por que razão é aquilo um desenho e isto não é um desenho?

MDB, Outono, 2009
Michael DaCosta Babb
Administrador-delegado, ADDICT - Creative Industries Portugal


1 – Theory of Modern Art - Theories of Modern Art: A Source Book by Artists and Critics by Herschel B. Chipp (University of California Press - 1984)
2 – “Location, Competition and Economic Development: Local Clusters in a Global Economy” Michael E Porter, Harvard Business School – 2000)
3 – Creative Industries – A new direction? Justin O Connor (International journal of cultural policy – 2009)
4 – Developing a Creative Cluster in a Post-industrial City: CIDS e Manchester
Justin O’Connor e Xin Gu, Creative Industries Faculty, (Queensland University of Technology – 2009).
5 – Location, Competition and Economic Development: Local Clusters in a Global Economy” Michael E Porter, Harvard Business School – 2000)
6 – “Writing on Drawing: Essays on Drawing Practice and Research” de Steve Garner (Intellect - 2008) P. 16
 


 
 
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